
Presente no início dos anos 90 no Brasil, o Sarampo – doença infecto-contagiosa causada por um RNA vírus, pertencente à família Paramyxoviridae e membro do subgrupo Morbillivirus - contou com forte campanha de vacinação que culminou na sua erradicação no país no ano de 2016, quando recebeu da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) o certificado de eliminação da circulação do vírus.
O sarampo é uma importante patologia responsável pelo crescimento da mortalidade infantil em países de terceiro mundo, sendo que a vacinação é imprescindível para evitar a disseminação da doença. Atualmente, um novo surto atinge o Brasil, precisamente nos estados de Roraima e Amazonas, com mais de 600 casos confirmados. Tal situação é uma consequência da redução do número de imunizações, seja por diminuição da demanda espontânea por parte da população, seja pela ausência de políticas públicas eficientes.
Causas e transmissão
O sarampo é causado por um vírus e a transmissão é feita de pessoa a pessoa, atingindo apenas aquelas que não foram imunizados pela vacina. A porta de entrada do vírus no organismo se faz pela penetração de gotículas contaminadas, que entram em contato com as mucosas, especialmente de vias aéreas superiores – nariz e boca. Existem controvérsias se a mucosa conjuntival (olhos) constitui porta de entrada efetiva do vírus. O homem e o macaco são os únicos hospedeiros naturais. A fonte de contágio é constituída pelos doentes, disseminando-se através do contato direto com gotículas de secreções eliminadas pelas vias aéreas. O vírus sobrevive 36 horas, em média, no núcleo da gota a temperatura ambiente, fato que limita a transmissão indireta ou aérea. As secreções no sarampo são mais fluidas, o que facilita seu raio de distribuição, sendo elas disseminadas a maiores distâncias e sedimentadas com maior lentidão; isto resulta na propagação rápida e maciça do vírus. O contágio ocorre a partir do final do período de incubação até cinco dias após o aparecimento do exantema (lesões na pele). Considera-se o período pré-exantemático - antes das lesões surgirem - como o de maior contagiosidade.
Sintomas
Os sintomas mais comuns do sarampo são: febre, mal estar, tosse seca constante, coriza, aversão à luz (fotofobia), dores musculares e indisposição excessiva, manchas avermelhadas na pele sem coceira e hiperemia nos olhos. O tempo de encubação pode chegar a 11 dias, ou seja, o intervalo de tempo desde que o indivíduo teve contato com outro infectado até o aparecimento dos primeiros sintomas. Antecedendo em 24 a 48 horas, às vezes 72 horas ao período do aparecimento das lesões na pele, podem ser visualizadas as manchas de Koplik; estas são pontos brancos-azulados localizados na mucosa bucal, na região próxima aos molares, que às vezes se estendem a toda mucosa oral. São manchas como grãos de areia, rodeadas por círculo vermelho, com fundo também avermelhado e que desaparecem 24 a 48 horas após o início da erupção, auxiliando no diagnóstico de sarampo mesmo antes do início das erupções na pele. Durante toda a evolução do sarampo verifica-se também hiperemia difusa (aumento da quantidade de sangue) da mucosa oral, com aumento de vascularização. Sintomas como febre acima de 40°C, vômitos causados pela tosse, desidratação (identificados pela presença de olhos fundos, pele seca, pouco xixi e choro sem lágrimas) e dificuldade de ingerir líquidos, exigem atendimento médico imediato. O sarampo hemorrágico, embora raro, é a forma clínica mais grave com que o sarampo se manifesta. Caracteriza-se por intensa toxemia, de início súbito com febre alta, convulsão, delírio, podendo chegar ao coma e resultar em graves distúrbios respiratórios. Além do exantema hemorrágico surge sangramento na boca, nariz e tubo digestivo.
Diagnóstico e tratamento
O sarampo clássico é diagnosticado clinicamente, ou seja, pela história clínica do aparecimento dos sintomas e pelo exame físico. Nestes pacientes, o diagnóstico virológico é excepcionalmente necessário para confirmar a suspeita. Os testes laboratoriais mais frequentemente são os sorológicos. Uma elevação de quatro vezes nos títulos iniciais, entre os estágios agudo e convalescente, é considerada diagnóstica para o sarampo, assim como a presença de anticorpos IgM para sarampo ou PCR (reação da cadeia de polimerase). A dosagem de IgM específica para sarampo é considerada exame sensível e rápido, sendo o diagnóstico realizado com apenas uma dosagem.
Não há terapêutica específica contra o vírus do sarampo e tampouco drogas capazes de prevenir ou interromper os sintomas da doença uma vez instalados. Entretanto, vários estudos têm observado que o uso de vitamina A em crianças com sarampo tem se associado à redução de mortalidade e da morbidade.
Os líquidos devem ser oferecidos, de acordo com a preferência da criança, a curtos intervalos. A dieta é livre, normal para idade, porém respeitando a falta de apetite natural que ocorre. Os cuidados com os olhos limitam-se, na maioria das vezes, à limpeza diária com soro fisiológico, quando há intenso aumento da quantidade de sangue com abundante secreção mucosa, podendo ser feita a limpeza com água boricada. Na presença de conjuntivite purulenta, estão indicados os colírios de antibióticos por cinco a sete dias. Ambiente escuro é recomendado para o paciente quando a fotofobia é intensa. O aumento da quantidade de sangue nos olhos deve ser combatido com os antitérmicos usuais, como Ibuprofeno e o Paracetamol. Compressas frias são úteis, especialmente quando se deseja controlar com rapidez a febre intensa em paciente predisposto a apresentar convulsão febril. A umidificação do ar ambiente também é indicada na fluidificação das secreções, bem como no tratamento adjuvante da laringite do sarampo. Analgésicos mais potentes, em pequenas doses, e antitussígenos são necessários nos casos mais rebeldes. Os antibióticos não possuem qualquer efeito no tratamento do sarampo, nem qualquer capacidade de alterar o quadro inflamatório causado pelo vírus, não devendo ser utilizados - a não ser nos casos com complicação bacteriana.