Saúde mental é meta do “Janeiro Branco”

Pela primeira vez no calendário de saúde, o “Janeiro Branco” foi uma iniciativa de um grupo de psicólogos brasileiros que tem por objetivo alertar a população para a necessidade de priorizar a saúde mental, conceito que engloba não apenas a ausência de transtornos mentais, mas também a capacidade de o indivíduo reagir, equilibrada e adequadamente, às circunstâncias, condições e problemas que a vida apresenta. Formado em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, em Psiquiatria pelo Instituto Municipal Philippe Pinel e em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela Universidade Federal Fluminense, o dr. Rodrigo Eustáquio, da Clínica PASA de Vitória (ES), fala na entrevista a seguir sobre problemas mais comuns, sintomas e medidas de prevenção no que diz respeito à saúde mental.

O sr. acredita que as pessoas, de modo geral, se preocupam tanto com a saúde mental quanto com a saúde física?

Vivemos em uma sociedade de aparências em que, no geral, nos importamos muito com a roupa que vestimos ou com o aspecto do corpo ou do cabelo, por exemplo. Além disso, muitas pessoas se preocupam apenas com o que possam ver ou sentir no corpo, como uma alteração no raio-x, uma doença de pele ou uma dor de cabeça que não passa. Entretanto, poucos acreditam nas manifestações que os transtornos mentais possam ocasionar no corpo, como palpitação, falta de ar e tremores em pessoas estressadas. Cada vez mais as pessoas têm buscado melhoria de sua saúde mental, embora ainda esteja longe de como se preocupam com a de sua saúde física.      

Há ainda preconceitos nessa área, na busca de apoio profissional?

Infelizmente ainda há resistência de muitas pessoas em buscar os serviços de saúde mental. Eventualmente pacientes chegam ao consultório de Psiquiatria dizendo sentir vergonha, ou desejar que ninguém saiba que se consultou com um profissional de saúde mental. A boa notícia é que estes estigmas têm perdido força com a melhoria das informações e a conscientização da população sobre os benefícios da promoção da saúde mental.      

Como poderíamos definir um bom estado de saúde mental?  

Poderíamos definir como um bem-estar biopsicossocial. A sanidade mental está intimamente relacionada ao corpo são e ao bem-estar social do indivíduo. Ouso dizer que as três esferas: biológica, psicológica e social compõem uma mistura praticamente indissolúvel quando falamos em saúde mental.      

Quais os problemas contemporâneos mais comuns no que diz respeito à saúde mental?  

Sem sobra de dúvida são os transtornos de humor: o transtorno de ansiedade generalizada e a depressão. Atualmente, as pessoas estão sendo muito exigidas profissionalmente, socialmente e emocionalmente. O ser humano cada vez mais parece ter que dar conta do ritmo das informações e das inovações tecnológicas. Cada vez mais as pessoas estão se afastando umas das outras, alimentadas pela frieza das comunicações virtuais. Muitos sofrem com o estresse, sem que pessoas próximas ou ao seu lado se deem conta. Alguns pioram ainda mais quando buscam um falso refúgio no alcoolismo ou no uso de drogas ilícitas.  

Especificamente em relação aos idosos, que problemas seriam esses?  

Além dos transtornos de humor citados anteriormente, poderíamos ressaltar as síndromes demenciais que cursam com a alteração do comportamento e o déficit importante de memória. Entre elas: a doença de Alzheimer, a demência vascular e a demência mista.    

Quais os riscos da automedicação, com o uso, por exemplos, de medicamentos para combater insônia e ansiedade?  

Quase todo mundo conhece alguém que usa o um "remedinho tarja preta". Isso, de fato, é muito preocupante, pois muitas pessoas preferem aliviar rapidamente o sintoma do que tratar o problema. Os medicamentos benzodiazepínicos são constantemente consumidos de forma equivocada. Em geral, são medicamentos relativamente baratos que fazem efeito rápido. No entanto, cobram um preço caro mais tarde. O uso prolongado desses medicamentos sem uma indicação médica precisa pode intensificar problemas cognitivos futuramente.  

 Que papel têm a família e amigos no apoio a pessoas diagnosticadas com depressão, por exemplo?  

Poderia dizer que compõem um papel central no tratamento. O suporte social, como o apoio familiar, tem papel fundamental na melhoria de um paciente deprimido. Principalmente quanto ao auxílio no uso das medicações conforme a prescrição. Outra situação é o apoio fundamental dos familiares de às pessoas que sofrem com a dependência química. A boa compreensão da família sobre o alcoolismo e suas consequências é de extrema importância para quem necessita parar de ingerir bebida alcoólica.  

Quem pode tecnicamente diagnosticar males relacionados à saúde mental?

O médico psiquiatra deve estar preparado para identificar de forma mais precoce possível, assim como fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças clínicas. Faz-se necessário, por exemplo, diferenciar quando a queixa de desânimo está correlacionada somente a um problema mental, emocional ou também associada a um quadro de hipotireoidismo. O psicólogo é um profissional que também está habilitado para atuar no diagnóstico e acompanhamento de quadros relacionados à saúde mental.

 

Que medidas podem ser tomadas, genericamente, para prevenir problemas nessa área? Exercícios físicos, alimentação, interação social, por exemplo, são importantes?  

Importantíssimos. Os hábitos de vida saudáveis: ter uma alimentação balanceada somada ao hábito da atividade física aeróbica e momentos regulares de lazer são fundamentais para o bem-estar mental de uma pessoa, em meio ao cotidiano tão corriqueiro.